Psicologia do Desenvolvimento X Educação ao longo da vida
A psicologia do desenvolvimento constitui uma área de estudo da psicologia que se debruça sobre as contínuas mudanças psíquicas que ocorrem nos indivíduos ao longo da vida, resultantes da interacção de múltiplos factores (biológicos, psicológicos, sociais, afectivos, culturais). Estuda, portanto, um muito complexo processo epigenético que ocorre em cada ser humano desde a concepção até à morte.
Contudo, tempos houve em que valorizou o estudo da infância e da adolescência, devido à predominância de mudanças visíveis, em detrimento do estado adulto, ao qual se associava uma certa estabilidade. Foi em meados do séc.XX com a teoria psicossocial de Erikson, a qual postula o desenvolvimento dividido por estádios durante toda a existência do indivíduo, que se assumiu definitivamente que o desenvolvimento biopsicológico não pára na idade adulta.
Esta concepção do desenvolvimento, com valorização de todas as etapas da vida, acompanha as transformações profundas que o progresso tecnológico e científico imprimiu nas sociedades ocidentais. Agora, a maior esperança de vida associa-se a exigências de adaptação e a novos papéis sociais que implicam constantes mudanças qualitativas e quantitativas nos indivíduos, resultando em sucessivas reconstruções do "eu".
Se nos reportarmos ao domínio profissional, é impensável, nos tempos actuais, considerar que os conhecimentos adquiridos durante a educação básica sejam suficientes e imutáveis durante toda a vida. Os saberes e as competências tornam-se rapidamente obsoletas, exigindo uma formação profissional e uma reciclagem permanente. Ao que parece, à luz da psicologia do desenvolvimento, o ser humano encontra-se preparado para estas novas exigências, pois uma das características que o diferencia dos outros animais é a sua plasticidade e flexibilidade que lhe dá uma capacidade ilimitada de aprendizagem ao longo da vida. Na realidade, o ser humano nasce quase despojado de comportamentos inatos, ficando obrigado a aprender para sobreviver. Esta sua capacidade de aprendizagem associada ao prazer pela exploração do meio e à sua adaptabilidade justifica a actual concepção de educação ao longo da vida perspectivada quer através do ensino formal, quer do informal.
Neste âmbito, creio ser pertinente referir algumas das conclusões de Delors et al, relativamente à educação contínua e global. Para estes, toda a sociedade tem responsabilidades educativas, pois «tudo pode ser ocasião para aprender e desenvolver talentos»[1] e todos têm um papel activo na educação, sendo desejável o abandono de posturas passivas. Efectivamente, a Educação não é só aquisição de conhecimentos, nem ocupa uma só etapa da vida, é cada vez mais importante a complementaridade entre os vários espaços educativos (família, comunidade, escola, meios de comunicação, empresas, instituições, associações....) e assentar em quatro indissociáveis e articuláveis aprendizagens. Aprender a Conhecer o mundo adquirindo uma cultura geral vasta e, simultaneamente, conhecimentos mais profundos em determinadas matérias, estando subjacente o aprender a aprender, cujo exercício da atenção, da memória associativa e do pensamento são áreas a não descurar; Aprender a fazer, ou seja conseguir pôr em prática os conhecimentos científicos e os de índole social, como a capacidade de comunicação, de trabalho em grupo, de gestão e resolução de conflitos; Aprender a viver juntos que consiste na resolução pacífica de conflitos, na compreensão e aceitação da diferença cultural, étnica, de opinião e na percepção da interdependência étnica e grupal subjacente ao convívio social; Aprender a ser, diz respeito ao desenvolvimento da pessoa como um todo, onde cada um aprende a ser autónomo e responsável pelas suas atitudes, a ter sentido crítico e a desenvolver as suas potencialidades físicas, sociais, intelectuais e artísticas.
Perante esta visão alargada da educação que ultrapassa a visão meramente instrumentalista há muito instaurada, podemos inferir que esta concepção da Educação global e contínua alicerça-se numa concepção interaccionista e construtivista do desenvolvimento humano, na medida em que defende o papel activo do sujeito na construção do seu conhecimento e personalidade, mas também a importância da interacção com os outros e com todo o meio envolvente.
Esta educação conduzirá o sujeito a um processo de desenvolvimento interior «cujas etapas correspondem às da maturação contínua da personalidade»[2]. Por outras palavras, a Educação Global ao longo da vida provoca mudanças contínuas e descontínuas no indivíduo sinónimas de reorganizações mentais que lhe permitirão atingir o auto-conhecimento, realização pessoal e redescobrir o mundo e os outros.
[1], [2] Delors, Jacques et al.(1996), Educação: Um Tesouro a Descobrir, Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, p.101,187
Contudo, tempos houve em que valorizou o estudo da infância e da adolescência, devido à predominância de mudanças visíveis, em detrimento do estado adulto, ao qual se associava uma certa estabilidade. Foi em meados do séc.XX com a teoria psicossocial de Erikson, a qual postula o desenvolvimento dividido por estádios durante toda a existência do indivíduo, que se assumiu definitivamente que o desenvolvimento biopsicológico não pára na idade adulta.
Esta concepção do desenvolvimento, com valorização de todas as etapas da vida, acompanha as transformações profundas que o progresso tecnológico e científico imprimiu nas sociedades ocidentais. Agora, a maior esperança de vida associa-se a exigências de adaptação e a novos papéis sociais que implicam constantes mudanças qualitativas e quantitativas nos indivíduos, resultando em sucessivas reconstruções do "eu".
Se nos reportarmos ao domínio profissional, é impensável, nos tempos actuais, considerar que os conhecimentos adquiridos durante a educação básica sejam suficientes e imutáveis durante toda a vida. Os saberes e as competências tornam-se rapidamente obsoletas, exigindo uma formação profissional e uma reciclagem permanente. Ao que parece, à luz da psicologia do desenvolvimento, o ser humano encontra-se preparado para estas novas exigências, pois uma das características que o diferencia dos outros animais é a sua plasticidade e flexibilidade que lhe dá uma capacidade ilimitada de aprendizagem ao longo da vida. Na realidade, o ser humano nasce quase despojado de comportamentos inatos, ficando obrigado a aprender para sobreviver. Esta sua capacidade de aprendizagem associada ao prazer pela exploração do meio e à sua adaptabilidade justifica a actual concepção de educação ao longo da vida perspectivada quer através do ensino formal, quer do informal.
Neste âmbito, creio ser pertinente referir algumas das conclusões de Delors et al, relativamente à educação contínua e global. Para estes, toda a sociedade tem responsabilidades educativas, pois «tudo pode ser ocasião para aprender e desenvolver talentos»[1] e todos têm um papel activo na educação, sendo desejável o abandono de posturas passivas. Efectivamente, a Educação não é só aquisição de conhecimentos, nem ocupa uma só etapa da vida, é cada vez mais importante a complementaridade entre os vários espaços educativos (família, comunidade, escola, meios de comunicação, empresas, instituições, associações....) e assentar em quatro indissociáveis e articuláveis aprendizagens. Aprender a Conhecer o mundo adquirindo uma cultura geral vasta e, simultaneamente, conhecimentos mais profundos em determinadas matérias, estando subjacente o aprender a aprender, cujo exercício da atenção, da memória associativa e do pensamento são áreas a não descurar; Aprender a fazer, ou seja conseguir pôr em prática os conhecimentos científicos e os de índole social, como a capacidade de comunicação, de trabalho em grupo, de gestão e resolução de conflitos; Aprender a viver juntos que consiste na resolução pacífica de conflitos, na compreensão e aceitação da diferença cultural, étnica, de opinião e na percepção da interdependência étnica e grupal subjacente ao convívio social; Aprender a ser, diz respeito ao desenvolvimento da pessoa como um todo, onde cada um aprende a ser autónomo e responsável pelas suas atitudes, a ter sentido crítico e a desenvolver as suas potencialidades físicas, sociais, intelectuais e artísticas.
Perante esta visão alargada da educação que ultrapassa a visão meramente instrumentalista há muito instaurada, podemos inferir que esta concepção da Educação global e contínua alicerça-se numa concepção interaccionista e construtivista do desenvolvimento humano, na medida em que defende o papel activo do sujeito na construção do seu conhecimento e personalidade, mas também a importância da interacção com os outros e com todo o meio envolvente.
Esta educação conduzirá o sujeito a um processo de desenvolvimento interior «cujas etapas correspondem às da maturação contínua da personalidade»[2]. Por outras palavras, a Educação Global ao longo da vida provoca mudanças contínuas e descontínuas no indivíduo sinónimas de reorganizações mentais que lhe permitirão atingir o auto-conhecimento, realização pessoal e redescobrir o mundo e os outros.
[1], [2] Delors, Jacques et al.(1996), Educação: Um Tesouro a Descobrir, Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, p.101,187
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